segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Heroes of a kind - O Bote dos bacalhoeiros

"Dóris", frágeis e modestas embarcações, que souberam honrar e engrandecer a profissão dos verdadeiros homens do mar.
Os pescadores bacalhoeiros que embarcavam nos Lugres, com destino aos bancos da Terra Nova e eram largados nos dóris, jornada após jornada, para pescar o bacalhau á linha.
Comprimento total 5,30 m
Largura total 1,50 m

Cada lugre partia de Portugal com dóris em numero suficiente para atribuir um a cada pescador e ainda restavam alguns suplentes. O "Creoula" trabalhava com 52 pescadores, e levava 58 dóris.
Os dóris eram empilhados no convés em lugares préviamente estabelecidos, todos os pescadores, desde o primeiro dia, tratavam com o maior respeito os "botes do bacalhau", logo desde a sua chegada a bordo.
O navio largava de Belem com destino aos bancos da Terra Nova, a viagem demorava cerca de 11 dias, passado o Cabo Raso, os dóris ficavam logo com outro aspecto.
O Mar saltava acima da borda, respingava por todo o lado, o dóris iam ficando reluzentes, brilhantes e bem molhados, e assim ficariam durante seis meses, começava a vida destes pequenos herois lutadores.
Os homens durante a viagem preparavam-se para a dura faina, o contra-mestre distribuia as botas de borracha, seis pares de luvas de lã para cada homem, fatos e chapeus de oleado, (os suestes).
Os dóris eram sorteados e distribuida a sua palamenta, eram distribuidas as varas para os mastros e o pano para as velas, assim como o óleo de linhaça para as impregnar.
Banco da Terra Nova, era iniciada a pesca, a cada pescador era distribuido 15 kg de isco, o Capitão manda arrear os botes, ao fim de meia hora todos os botes estavam no mar. Uns a remos, outros á vela, iam-se afastando do navio, cada um no bote era senhor da sua sorte e restava esperar a ordem do navio para regressar.
Durante os dias de nevoeiro, a buzina ia atroando o ar com os seus dois toques longos.
O Comandante recomendava aos mais velhos que cuidassem dos mais novos.
"Olhem que não quero esses rapazes ao abandono, não me vão para longe, nem me apareçam cá sem eles".
Ás 3 da tarde o comandante lançava o foguete, era o sinal do fim da faina diária e que indicava onde estava o navio, era hora de regressar a bordo.
A partir dessa altura a buzina era de 3 toques, os pescadores entendiam-se entre si, por toques de buzio que combinavam préviamente.
Com dias melhores e dias piores, o tempo ia passando e os rapazes já eram senhores dos seus dóris, aos poucos amadureciam ás suas custas.
Cada pescador poderia pescar 600 kg de peixe num bom dia de pesca.
Nos principios de Junho, o navio reabastecia no porto de North Sidney na Nova Escócia (Canadá).
Após o reabastecimento o navio dirigia-se para o Estreito de Davis, na costa oeste da Groenlândia, e ficavam por lá pescando até aos primeiros dias de Setembro, com o clima mais agreste que um pescador sózinho, num bote de 5 metros possa imaginar.
Na primeira semana de Setembro, o Comandante dava por terminada a pesca, era hora de regressar a casa com o navio carregado de bacalhau salgado.
Na viagem de regresso estavam todos cansados, homens e dóris, todos mostravam no seu aspecto como tinha sido essa luta durante os arduos seis meses de campanha.
Os pescadores crispados pelo tempo, barba crescida, pele queimada e mãos gretadas. Os dóris esfolados, riscados pelos anzóis e pelos garfos da descarga, não conseguiam esconder os seus males.
Cavernas partidas, tábuas estaladas e gretadas, remendos com fios de algodão e pedaços de lona, tudo para tapar as feridas do tempo.
Mas tudo era apagado pela alegria do regresso a casa, o tempo e a água do mar começavam a aquecer e os dias contavam-se ao contrário. Deixavam de se os que ainda faltam e começavam a ser os que já só faltam.
O avistar do Cabo da Roca era o melhor remédio para sarar todas as feridas, os dias frios de mau tempo e o cansaço.
O navio entrava a magnifica barra do Tejo e dirigia-se para o Barreiro, onde o peixe era descarregado.
Os dóris tambem iam deixar o navio por alguns meses, iam para a oficina de carpintaria sarar as feridas.
Essa ausência do local de trabalho, não era mais que um merecido repouso, para se recomporem e alindarem, de forma a estarem aptos para quando os pescadores voltarem a precisar deles.
Alguns velhos e cansados para uma vida tão dura, eram usados nas reparaçôes do casco e pinturas, era mais uma forma de continuar vivo e útil, junto daqueles que os estimavam e compreendiam.
Era esta a ordem natural da vida dos valentes e humildes dóris dos bancos.
Those were heroes of a kind
in "Um pequeno herói"

5 comentários:

joao madail veiga disse...

O Mar da Greonelandia aeemelhava-se, mas em calmo, ao tenebroso Mar da palha.
Quanto aos doris, compravam-se no fim das fainas por uns cem escuditos, de tal forma que quase todos nós tinhamos um.
Os mais abastados mandavam-nos cortar pelo fundo para ficarem mais baixinhos, melhores para a Ria e fechavam a proa.
Os outros iam com eles para a Ria tal como desembarcavam.

Anónimo disse...

O tempo que às vezes perdemos a admirar e louvar os Knox Johnston, Slocums, McArthurs e Tabarlys do estrangeiro deveríamos mais ganhá-lo a olhar para trás e para dentro e ver os valentes que cá tínhamos dentro...

lissa disse...

hola...
que histórias fascinantes e feitos tao corajosos e grandiosos que poucos se lembram de contar...

lissa disse...

hola...
Tem um museu em figueira da foz que fala muito sobre estes heróis dos mares...
Para mim,me desculpem... uns herois pela sua força e coragem de irem em busca do seu ganha pao contra os grandes e senhores ventos e enormes e medrosas tempestades e vagas gigantes com vontade de engolir tudo!!!
herois para terem alimento para dar suas familias...
Tive ate bonito privilegio de ser guiada e esclarecida pela funcionaria que por ali se encontra...
Adorei e aconselho...

João Manuel Rodrigues disse...

Pois tenho visitado várias vezes o Museu Marítimo de Ílhavo, e tenho um fabuloso livro sobre a "Campanha do Argus" (Lugre bacalhoeiro), escrito pelo repórter do Nathional Geografic, Alan Villers, com o nome "The quest of the schoner Argus", onde o mesmo andou embarcado durante a campanha de 1950.
Hoje ainda cá temos 3 lugres deste tempo, "Creoula" "Santa Maria Manuela" e mais recentemente o "Argus".