sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

A moda do GPS


O Sistema de Posicionamento Global está na moda, toda a gente quer saber onde está e para onde vai (têm esse direito).
Qualquer superficie comercial que se preze, tem o seu espaço para exposição destas caixinhas, nem as lojas de telecomunicações escapam, a própria Brisa "oferece" um GPS a quem aderir á sua Via Verde.
Toda a gente precisa de um GPS, dá-se meia volta no centro comercial, compra-se o aparelho, corre-se para o estacionamento, abre-se a caixa á pressa, cola-se o suporte no tablier, liga-se o aparelho á ficha de isqueiro do carro, carrega-se no Power, (que sufoco), mas já está (orgasmo), finalmente com GPS.
Impõe-se uma primeira pergunta á pessoa que está connosco no momento (namorada, amiga esposa, companheiro, etc)
"Queres ver onde estamos?"
(Pergunta estupida que acontece em 99% dos casos).
"Agora já não nos perdemos", pronto, tambem fico mais descansado ao saber que agora anda menos gente perdida.
Aconteceu comigo (I):
Alguns dias atrás chego a um bar que costumo frequentar lá na borda d'àgua, vejo um amigo meu que me diz:
- "Vê lá se consegues pôr isto a trabalhar, "isto" era a uma caixinha com um mostrador, vulgo "display", que teimava em não sair do menu principal.
- Zé, onde é que arranjás-te isto?
- Comprei no MaxMat. (até já são vendidos em lojas de parafusos)
- Bem, foste lá comprar pregos e comprás-te um GPS, então vai lá dizer a eles que a caixa de pregos não funciona.
-Chatice, logo amanhã que queria ir á terra, não tenho GPS.
- Ó Zé, mas tu nunca foste á terra?
-Fui, mas queria ir de GPS.
Agora é assim, acabaram-se as estradas e tabuletas, sem GPS nada feito.
Aconteceu comigo (II):
Um aluno meu de um curso de Patrão Local, aí a meio do curso, estavamos nós no auge da carteação, eis que me pergunta:
- Afinal, quando é que aprendemos a trabalhar com GPS?
(Caldo entornado)
- Ó Senhor, se você quer aprender a trabalhar com GPS, compre um e leia as instruções.
(Desistiu do curso uns dias depois, a esta hora deve andar perdido)
Mas eu pecador me confesso, tenho um GPS, sou possuidor de tão nobre objecto, já tem uns anitos, mas não deixa de ser útil ás vezes, uso-o amiude para navegar, marcar alguns pontos ( vulgo waypoints), algumas rotas, isto porque o mar não tem estradas, mas normalmente levo o trabalho de casa feito na carta de papel, até porque não estou interessado em ficar viciado neste instrumento e esquecer o que levei tanto tempo a aprender.
Agora, na pele de condutor e prestes a atingir 1.000.000 de Km em viatura auto-própria, continuo a ser adepto do nosso ditado popular "quem tem boca, vai a Roma".

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bandeira a meia haste

Terça-feira, dia 12 de Fevereiro de 2008, como é habitual no final do dia de trabalho, chego á Secção Náutica, passo pelos mastros e não reparo que a bandeira está a meia haste, dirijo-me ao espaço vedado a fim de ver o meu barco que se encontra a seco e tambem ver como vão os outros trabalhos, aí recebo a noticia, "o Palmela teve um AVC", e é quando recebemos este tipo de noticias que imediatamente nos pomos a pensar e a recordar.
O Palmela, porra!
Inicio da decada de 8O, eu era muito chavalinho, o Óscar Palmela era director da Secção de Vela, motorista de serviço ás regatas, figura de proa da Secção Náutica e carismática de Alhandra, por esses clubes Náuticos onde passámos grangeou grandes amizades, pela Secção fez tudo o que pôde e dava o que tinha e não tinha.
Ele mandava parar o transito na 25 de Abril, desatrelávamos os barcos da carrinha, foi abaixo e só pega de empurrão, nas maratonas do Tejo, tratava o Macário Correia (Ministro do Ambiente) e o Almirante Homem de Gouveia (acessor do P.R. Mário Soares ) por tu, enquanto fazia publicidade ao Whisky Passport, vinhamos das regatas e ele não dispensava a paragem no Largo da Praça, e em frente á estátua do Dr Sousa Martins ele gritava bem alto fosse a que horas fosse, "Sousa, chegámos bem".
Recordo o carro que ele teve no final dos anos 7O inicios de 8O, um OPel Coupé com uns grandiosos 69 pintados nas portas, (fazia inveja ao Gen Lee dos 3 duques).
Dono e senhor cadelas monumentais, vi-o ser arrastado pelo pneumático e agarrado ao painel de popa conseguir desengatar o motor, vi-o cair á água no meio do Tejo em Vila Franca com impermeáveis e botins de borracha e conseguir-se safar.
Parávamos na tasca do vinho morangueiro alguras na Póvoa de Sta Iria e ao presunto ele chamava faisão, espetou-nos grandes bebedeiras, sempre controlado, nem que fosse a 2O á hora, mas a carrinha e os barcos sempre chegavam bem á nossa terra.
Sempre que nos encontrávamos dizia, "era eu que te tirava o ranho do nariz e punha-te dentro do barco".
Vejo o meu pai á minha espera na borda d'água e quando a carrinha chega ele pergunta: então Óscar só agora?
-O que é que queres? Esta merda não anda a mais de 4O.
Co-fundador da Tertulia "Alhandra A Toireira", sempre me convidou a estar presente no aniversário da mesma e sempre fiz questão de aparecer.
Numa tourada na praça de touros de Salvaterra, salta para a arena e oferece o seu boné de marinheiro ao cavaleiro Gustavo Zenkl que lhe cede o seu tricórnio.
Andava um bocado afastado das nossas lides á alguns anos, mas não dispensava a visita á Secção de Náutica, tinha montado um telheiro entre o cais 14 e o dos bombeiros e era onde o podiamos encontrar todos os dias no seu desporto preferido, comer e beber.



No dia em que tirei a foto (Verão 2007), almocei com ele, eu ia almoçar á Dina, mas ele disse: "almoças comigo que o "Sarampo" não apareceu, tá aí o entrecosto que era para ele, pôe mais carvão no lume e desenmerda-te",falava sempre á boa maneira portuguesa, (duas palavras e uma caralhada ou um foda-se a servir de virgula), e depois era incrivel o que ele tirava do armário atrás que tinha lá no telheiro, vinho, queijo, frutas, whisky, café, a tarde nunca mais acabava.
Figura de alguns excessos, viveu á sua maneira e sempre como quis e a fazer o que gostava, na borda d'água a comer e a beber.
Grande companheiro, como dizia o Tibério, "o melhor dispenseiro que se podia ter a bordo".
Dono da frase, "vão comer para o caralh..., a tasca vai fechar".
Desta vez a tasca não volta a abrir. A borda d'água vai sentir a sua falta.