segunda-feira, 24 de maio de 2010

Na saga dos "DC's" (continuação)

Decorria o ano da graça de Deus de 2004, mês de Junho, eu tinha metido na cabeça que o próximo barco que comprasse teria de ser á minha "medida", tinha de ter condições de habitabilidade, conforto, manutenção reduzida, patilhão rebativel para poder navegar á vontade no rio e uma arqueação que me proporcinasse condições de manobra em solitário e poder "fazer" mar.
Eu sabia que isto já existia, mas, um "Feeling, de patilhão rebativel, fabricado pelos estaleiros "Kirie", estava completamente fora das minhas parcas possibilidades, e nas deambulações que ia fazendo nunca encontrava o que procurava.

Até que um dia de visita a Valada do Ribatejo, vejo um pequeno veleiro, cujo feliz propriétário, havia "artilhado" até ao limite, de modo a proporcionar o conforto indispensável para 3 meses de estadia naquela vila ribatejana.
Digamos que foi amor á primeira vista, era isto que eu queria, vejo a bordo um simpático casal a ler, não querendo incomodar volto com a referência da embarcação em mente, um "DC 740", fabricado em Aveiro nos estaleiros "Delmar Conde".

Hoje confesso-me feliz proprietário de um DC 740, fâ incondicional, destes pequenos veleiros maneirinhos e nervosos, amigo pessoal do Delmar, que visito sempre que vou a Aveiro, e amigo do meu amigo Cristovão.

O "Paradise" no dia em que o conheci

Idem, idem, aspas, aspas


Posteriormente, enquanto deitávamos abaixo uma caldeirada de tamboril a bordo da traineira do "Ti Vitor", tive a oportunidade de conhecer o Cristovão e de o informar que tinha sido o responsável por eu haver comprado um "DC".

Como o Carlos Cristovão passa a vida a dizer que sou um vaidoso com o "NV Volare", deixo aqui uma postagem tipo "o seu a seu dono", apesar de o "NV Volare" ser um dos maiores icones d'água acima, do estuário do Tejo e baía de Cascais, o "Paradise" é realmente o DC 740 mais artilhado do mundo, quiçá de todo o universo, como se pode dizer "uma obra prima do tunning náutico.


Com o "Paradise" em aproximação, que nos encontremos por muitos e muitos anos a subir o rio.

domingo, 16 de maio de 2010

Dia de vento muito incerto

Após um inverno rigoroso mas passado a navegar no Mar da Palha, á descoberta do BlueSeven, (houve dias mesmo em que devíamos ser o único veleiro a navegar no estuário), finalmente aparecia dentro do nosso calendário, um dia de bom tempo, diga-se aceitável, quando chego ao barco já tinha á minha espera uma tachada de ovos escalfados preparados pelo Rui, eu devia de estar cheio de traça, porque retracei tudo.
Após a refeição lá nos fizemos ao Mar da Palha com destino á zona de Belém.
Desilusão, o vento estava deveras incerto, quer em intensidade, quer em direcção, ora vinha de NW com 12 nós, para depois se apresentar de N subindo até aos 34 nós, as refregas estavam lá, anunciando que o verão está para chegar e com ele as nossas odiadas nortadas.
Optámos por sair com a vela grande no 1º rizo, opção que se viria a verificar como acertada, sob pena de sermos apanhados desprevenidos.
O Rui como sempre preocupado com a manobra de convés e aparelho vélico, a meter-me os nervos em franja com as suas passeatas e verificações.
Á passagem por Alcântara estavam lá daqueles dos grandes, este estava a encher as goelas.


A escota da vela grande sempre á mão, o gajo ás vezes vinha bruto, lá íamos comentando entre nós que o barco começava a ter cada vez menos segredos, no entanto, íamos chegando á conclusão que com ventos fortes e incertos, falta-nos pelo menos mais um tripulante experimentado.

Alguns momentos de relativa calma em que dava para apreciar as flotinhas que passavam por nós e que também aproveitávamos para beber uma ou outra "nine" fresquinha.

Quando invertemos o rumo entre Belém e a torre VTS, é que foram elas, a maré começava a vazar, o vento ora caía, ora trinta e tal nós, sempre, mas sempre incerto, obrigando a uma bolina bastante quilhada rumo á marina do Parque das Nações, com o Blue Seven a ser obrigado a orçadelas bastante acentuadas onde aproveitámos para lavar as vigias de EB, em frente a Cabo Ruivo, com os 34 nós cada vez mais constantes, e com intenção de chegar-mos á vela até á marina, o Rui é obrigado a rizar a grande para o 2º rizo, tornava-se impossível aguentar o barco equilibrado.
Se com bom tempo é assim, prefiro frio, chuva e vento forte, mas que venha certinho, não é pedir muito.

terça-feira, 11 de maio de 2010

As velas da liberdade ou um barco chamado aventura

Em plena guerra civil de Angola e no dia das comemorações do 3º aniversário da independência, seis rapazes fogem de Luanda num veleiro de 13 metros. Orientados por apenas uma bússola, um mapa rudimentar e um rádio a pilhas, cruzam um oceano de duvidas, medos e anseios, em busca da liberdade e da própria vida, o destino é Portugal.
Após 50 dias passados no mar e um natal no meio de uma tempestade, o veleiro "Tartan" atinge a costa algarvia.
Imperdivel, só mesmo lendo, para que nos seja devolvido o verdadeiro sabor da vida, e acreditar que com vontade toda a viagem é possível.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Em jeito de reflexão

Está a fazer 3 anos que ando para aqui a escrever umas coisas, como diz um amigo meu, "ah e tal, podes não dizer nada de jeito, mas até escreves umas merdas".
O que é certo é que numa altura em que se pouco falava de redes sociais, abracei a Blogosfera com o intuito de exprimir alguns sentimentos, nomeadamente o prazer que tenho em navegar, nas viagens de água acima, o sonho de um dia quiçá o mar como horizonte.
Como todas as crianças vivi a série "Verão Azul" e vibrava com a história do velho Chanquete, que vivia no seu barco e que este para si tinha o significado de uma vida.
Naquela altura eu pensava, "quando for grande, também quero viver num barco, deve ser giro".
No dia 5 de Maio de 2008, tomei uma decisão, larguei 14 anos de vida, e fui com uma mochila ás costas para o único sitio onde me sentia bem, para o barco, como lhe chamo, o meu cantinho, por momentos pensava que não deveria ter sido desta maneira, não fui obrigado, mas fui por necessidade de me encontrar.
"Ganda Maluco", diziam, vive num DC 740, eu respondia que para mim dava perfeitamente, sentia-me bem, tinha um quintal do tamanho do Tejo e passava o tempo de pés descalços no convés.
O tempo que passei (e ainda passo lá), permitiu que descobrisse que por mais que pensasse que já tinha as respostas todas, há sempre algo que troca as perguntas e ficamos sem respostas para dar.
Entre confusões, indecisões e muitas navegações, demorei cerca de 2 anos a traçar o novo rumo, navegador solitário por opção me assumo, pode ser que o barco chegue a um porto seguro, senão, vai continuar a navegar.
Todas as escolhas que fazemos, vão ditando a vida que levamos, eu levo a vida assim, á minha maneira.Nestas alturas em que o tempo passa e as horas não contam, sinto que não sou infeliz.

João (o gajo d'Alhandra que foi viver para um DC, como dizem lá em Aveiro)