terça-feira, 5 de agosto de 2008

A saga dos DC's 740

À semelhança do meu amigo Tony Pardal, faço gala em afirmar que os DC's 740 são os melhores barcos do mundo, recebo amiude alguns mails a pedirem opiniões sobre este barco e inclusivé o porquê de lhes chamarem DC, já que 740 é o seu comprimento total de registo.
Neste caso temos de dar o mérito á pessoa que deu alma a este barco, é num dos lugares mais bonitos do nosso país que o encontro sempre que me desloco á Ria de Aveiro, o seu estaleiro fica junto á ria, na Gafanha da Encarnação, pessoa de trato fácil, mesmo estando envolto nos seus trabalhos, sempre que eu entro nas instalações larga o trabalho e perde meia hora a conversar comigo.
Conheci o Delmar em 2004, quando procurava um veleiro para mim, na altura já tinha abandonado a ideia de voltar a construir os DC 740, hoje é com agrado que o ouço dizer que pondera construir mais 6 unidades.

O Conde do Mar - Delmar Conde

De nome de baptismo Delmar da Silva Conde, nasceu na Gafanha do Carmo, concelho de Ilhavo, a bordo de uma familia de marinheiros, aos 17 anos emigra para a Alemanha, de onde regressa cerca de 10 anos depois á sua Ria de Aveiro, para fundar a sua marca de construção naval, nascem os barcos DC (Delmar Conde).


Dedicando-se primeiro a embarcações de vela ligeira para competição, cria o DC 600, fazendo lembrar os "Vougas".


DC 600


Imparável, de lápis na mão, rabisca o DC 740, uma embarcação vocacionada para o cruzeiro familiar na Ria de Aveiro, duas camas, casa de banho, cozinha, salão QB e um patilhão rebativel fazem deste barco uma roulote sobre a água.




"Virgo" o primeiro DC 740, construido em madeira



Este modelo tem cerca de 40 unidades espalhadas pelo país, (sendo mais acentuada como é lógico na bacia hidrográfica da Ria de Aveiro, 5 unidades estão em Alhandra), deu origem ao DC 730 vocacionado para competição, tendo como origem o mesmo casco, obras mortas rebaixadas, amplo poço e aparelho de competiçao, fazem deste barco um verdadeiro colosso competitivo.



DC 730 "Planador IV", o nome diz tudo.

Hoje está envolvido no projecto de desenvolvimento da classe Vouga, uma classe nacional oriunda da Ria de Aveiro, já sairam duas unidades do seu estaleiro, construidas pelo método de construção directa em mousse de PVC revestida a PRVF, estando neste momento a fase de preparação do molde para as próximas unidades.



"Vouga", mais que um barco, uma obra de arte


Tambem á dois anos saiu do seu estaleiro o "Guilietta" um DC de 12 metros vocacionado para o cruzeiro familiar, tendo por molde o seu próprio barco o "Porto de Aveiro/Mike Davis", este sim, vocacionado para a competição.




"Giulietta" DC 1200 Cruzeiro



"Mike Davis/Porto de Aveiro" DC 1200 Regata, o seu barco


"Só estou bem dentro de água". Mais do que marinheiro, assume-se guerreiro de uma "luta constante entre o velejador, o barco e as condições atmosféricas". A guerra sobre a água é permanente. "Nenhum minuto é igual ao outro porque num segundo muda tudo". Sorri uma luz de mar, feita de pele tostada por muitos sois, feita de cabelo hirsuto, seco e fragilizado pelo vento e pelo sal das ondas. Nos olhos brilha o reflexo da luz sobre o oceano. "É um desafio ter sempre o barco preparado para atingir o máximo de rendimento". Também o espírito de Neptuno convém ter sempre a postos.


"Qualquer dia damos a volta ao mundo". Delmar Conde ri. Do cais olha para a água. Suspira. Não está ali. Já navega em alto mar.

5 comentários:

CELTA MORGANA disse...

Há gajos que mereceriam terem nascido noutras bandas. O Delmar Conde é um deles. Se tivesse nascido nos STATES (é certo não havia hoje DC 740)seria hoje um nome de vulto na Vela mundial.Mas para além de velejador, construtor, arquitecto, desenraca... O Delmar Conde é bom HOMEM, faz aquilo que gosta, tem uma familia maravilhosa e vive junto dos seus filhos. Pouca gente vive tão bem ...
O nome Delmar merecia um blogue.

João Manuel Rodrigues disse...

ò Pardal, tu tens toda a razão e deus sabe como concordo contigo, á falta de Blogue, ficam as nossas publicações.
E do Delmar muito fica por dizer, só mesmo para quem conhece.

Olha, vende mas é o "Celta Morgana" e compra outro "Wooloomooloo".

João

bp disse...

Vim aqui pelo comentário que ficou no blog do peix' Agulha, acerca do Olympus.
Estas notas fizeram subitamente sentido este verão, quando vi entrar no porto de Ponta Delgada um veleiro, com o pano todo em cima e a rasgar junto à costa, como se fosse de cá, mas pela cor do casco e velas, não o conhecia. Era o Mike Davis que se apresentava para as regatas de verão - Açoriano Oriental e Atlantis Cup. Vale a pena vir cá participar: para além do mar, a gente recebe sempre bem e as ilhas são lindas!
Cresci com os Vougas que não eram feitos para mar aberto, mas olhando para trás, só me lembro deles e do que com eles naveguei e vivi em mar aberto, dos 4 aos 16 anos. Revirar estava fora de questão e eu abusava. Infelizmente desapareceram quase todos, ou seja, existe um que veio do Faial e foi soberbamente restaurado.
Há uns anos atrás chegou à ilha o Fénix, um DC470, agora do Eduardo Reis: vai a todas, de verão e de inverno, apesar de subir e descer cada uma das vagas quando o mar está rijo. Não conheci o Delmar Conde porque, por termos partido o mastro do peix' Agulha, não fomos na Atlantis Cup, mas, pelo modo de navegar e pelos desenhos, merece a minha admiração.
Obrigado por terem deixado estas notas para os leigos.
Abraço atlântico

Anónimo disse...

Bons Ventos,

o Delmar não tem blogue, mas tem site. www.delmarconde.pt

Não está a história deste Homem de Mar, mas está parte da sua obra e os alicerces do futuro...

NC

joaocarioca disse...

Caro João Rodrigues
Não resisti a publicar no meu blog um post sobre o Delmar e os seus barcos.
Peço desculpa por não ter referenciado que o João já tinha feito aqui uma justíssima homenagem ao Delmar.
O meu post acaba por ser o complemento deste e também acrescentar a minha experiência de conhecimento e amizade para com o Delmar.
Um abraço