domingo, 25 de julho de 2010

Dias da borda d'água ( I )

Estamos a meio de Junho, as aulas acabaram, é perto das 10 da manhã, é tempo de vestirmos os calções e pegarmos na toalha, e vamos até á Secção, a água do Tejo está a uns deliciosos 28º, damos um mergulho e vamos a nadar até á "Rosita" (antigo barco de pilotos, pertença do clube), mais uns mergulhos e esperamos pelo batelão da areia que passa para montante perto do meio dia, aproveitamos para fazer-mos uma carreirinhas nas ondas com as pranchas Mike Davis.
Entretanto é hora de almoço, a gente já volta para a tarde.
O calor continua, a água está baixa, só nos resta meter o Snipe na água e lotação super lotada, 12 num Snipe movido á pagaiada, e vamos tomar banho para o bico do mouchão.
Pelas 17 horas vem a nortada, corre tudo a aparelhar tudo o que é barco, Optimists, Cadetes, Europes e Vauriens na água, o Kebra chega da TAP, tem um ataque de nervos, tá tudo na água sem autorização, chama o pessoal aos gritos e apela á sua doença de nervos, o pessoal saí da água e é corrido a grito e a pontapé, (ainda hoje estamos traumatizados).

Não nos resta mais do que ir até ao Cais 14 ajudar na descarga do melão que entretanto tinha chegado de traineira vindo da lezíria ribatejana, depois de descarregado o mestre dá um melão a cada um, daqueles bons a saber a mel, é bom para variar a ementa, até porque a amoreira da rua do cais estava a ficar depenada. Á noite a maré já está no preia-mar, a água está a babar o cimo do cais 14, vamos até ao cais do padeirinho e tiramos á sorte quem vai nadar até ao 14 e roubar um melão.

Fim de semana, temos as regatas do Colete Encarnado na vizinha Vila Franca, aparelhamos os barcos e vamos por aí acima, calha-me ser proa num Vaurien, vento Sul, fraco, maré a encher, após várias tentativas, não conseguimos rondar a bóia da bolina colocada numa zona de corrente, entretanto lá convencemos mais ou outro que paraeceu, que a bóia era impossivel de rondar e a alternativa era rumar á margem sul até á rampa de alagem situada junto á ponte Marechal Carmona e consequentemente a uma tasca ali situada "O retiro dos caçadores, pescadores e outros..."

Logicamente que uma decisão deste tipo não podia dar bom resultado, o Kebra aparece no Zebro a cuspir fumo e gritos e outros palavrões que foram contribuindo para as crianças traumatizadas que somos hoje, "aparelhem a merda do barco, cu de fora, bordos curtos junto á margem e já pa Alhandra". O vento sobe de intensidade, o álcool no sangue tambem já tinha subido, alterámos as ordens e fomos pa Vila Franca, afinal era Colete Encarnado e o vinho e as sardinhas eram de borla e estavam lá á nossa espera.

Lá chegados fomos directamente ter com o Valada (Presidente da Secção de Vela), a quem informámos que iamos deixar o Vaurien em VFX, para as regatas do dia seguinte, e lá fomos nós para a festa, alguns copos de vinho e umas tantas sardinhas depois, damos de caras com o Kebra, que mais uma vez nos convidou amavelmente (á sua maneira, claro) a aparelhar novamente o Vaurien, e só nos queria ver n'Alhandra e depois falaríamos.

Fez questão de nos ajudar a aparelhar novamente o barco (gajo porreiro) e deu-nos um sábio conselho que ainda hoje recordo "vento Sul, maré a encher; cuzinho de fora, bordos curtos junto á margem e vamos pá Alhandra".

Claro que com a quantidade de sangue que já tínhamos dissolvida no álcool, ele bem podia dizer o que lhe apetecesse, mas que fomos para a água fomos. Bordo para a margem Sul, (não havia mais rio), bordo para a margem Norte e estávamos novamente no mesmo sítio, digo para o meu parceiro "o Kebra já deve ter bazado, aproa ao posto nautico de VFX e pronto.


Só que o outro estava lá, com água pelos joelhos a prever a merda que íamos fazer, já quase, quase a atracar, digo: "orça esta merda que tá ali o Kebra", o gajo em vez de orçar, arriba e caí á água, eu vendo-o cair, pensei "o gajo tá bêbado" e fui solidário, amandei-me também á água, mas para tentar segurar o barco, só que era mentira e lá foi o barco a um sozinho como ele só, mas desta feita com o Kebra a nadar atrás dele, lá conseguiu alcançar o dito e traze-lo de volta, desta vez disse, "vão para Alhandra a pé, que vos faz bem".
(continua)

1 comentário:

Pedro Cabral disse...

Bons tempos esses, que mesmo duas gerações adiante ainda se repetiam.

Agora é diferente. Agora já não há lama e pé descalço mas sim um calçadão todo maricas cheio de madames a passear e engenheiros a alvitrar. Já não está a Cidália no bar do clube a vender bolos com baratas e café manhoso e temos um mui chique bóia bar com três prateleiras de licores coloridos.
Já não se brinca com fisgas e à pedrada e os putos agora andam de triciclo com capacete, joelheiras e telemóvel no bolso do bibe.

Mudámos muito, mas creio que para pior...