Não nos resta mais do que ir até ao Cais 14 ajudar na descarga do melão que entretanto tinha chegado de traineira vindo da lezíria ribatejana, depois de descarregado o mestre dá um melão a cada um, daqueles bons a saber a mel, é bom para variar a ementa, até porque a amoreira da rua do cais estava a ficar depenada. Á noite a maré já está no preia-mar, a água está a babar o cimo do cais 14, vamos até ao cais do padeirinho e tiramos á sorte quem vai nadar até ao 14 e roubar um melão.
Fim de semana, temos as regatas do Colete Encarnado na vizinha Vila Franca, aparelhamos os barcos e vamos por aí acima, calha-me ser proa num Vaurien, vento Sul, fraco, maré a encher, após várias tentativas, não conseguimos rondar a bóia da bolina colocada numa zona de corrente, entretanto lá convencemos mais ou outro que paraeceu, que a bóia era impossivel de rondar e a alternativa era rumar á margem sul até á rampa de alagem situada junto á ponte Marechal Carmona e consequentemente a uma tasca ali situada "O retiro dos caçadores, pescadores e outros..."
Logicamente que uma decisão deste tipo não podia dar bom resultado, o Kebra aparece no Zebro a cuspir fumo e gritos e outros palavrões que foram contribuindo para as crianças traumatizadas que somos hoje, "aparelhem a merda do barco, cu de fora, bordos curtos junto á margem e já pa Alhandra". O vento sobe de intensidade, o álcool no sangue tambem já tinha subido, alterámos as ordens e fomos pa Vila Franca, afinal era Colete Encarnado e o vinho e as sardinhas eram de borla e estavam lá á nossa espera.
Lá chegados fomos directamente ter com o Valada (Presidente da Secção de Vela), a quem informámos que iamos deixar o Vaurien em VFX, para as regatas do dia seguinte, e lá fomos nós para a festa, alguns copos de vinho e umas tantas sardinhas depois, damos de caras com o Kebra, que mais uma vez nos convidou amavelmente (á sua maneira, claro) a aparelhar novamente o Vaurien, e só nos queria ver n'Alhandra e depois falaríamos.
Fez questão de nos ajudar a aparelhar novamente o barco (gajo porreiro) e deu-nos um sábio conselho que ainda hoje recordo "vento Sul, maré a encher; cuzinho de fora, bordos curtos junto á margem e vamos pá Alhandra".
Claro que com a quantidade de sangue que já tínhamos dissolvida no álcool, ele bem podia dizer o que lhe apetecesse, mas que fomos para a água fomos. Bordo para a margem Sul, (não havia mais rio), bordo para a margem Norte e estávamos novamente no mesmo sítio, digo para o meu parceiro "o Kebra já deve ter bazado, aproa ao posto nautico de VFX e pronto.
1 comentário:
Bons tempos esses, que mesmo duas gerações adiante ainda se repetiam.
Agora é diferente. Agora já não há lama e pé descalço mas sim um calçadão todo maricas cheio de madames a passear e engenheiros a alvitrar. Já não está a Cidália no bar do clube a vender bolos com baratas e café manhoso e temos um mui chique bóia bar com três prateleiras de licores coloridos.
Já não se brinca com fisgas e à pedrada e os putos agora andam de triciclo com capacete, joelheiras e telemóvel no bolso do bibe.
Mudámos muito, mas creio que para pior...
Enviar um comentário