sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bandeira a meia haste

Terça-feira, dia 12 de Fevereiro de 2008, como é habitual no final do dia de trabalho, chego á Secção Náutica, passo pelos mastros e não reparo que a bandeira está a meia haste, dirijo-me ao espaço vedado a fim de ver o meu barco que se encontra a seco e tambem ver como vão os outros trabalhos, aí recebo a noticia, "o Palmela teve um AVC", e é quando recebemos este tipo de noticias que imediatamente nos pomos a pensar e a recordar.
O Palmela, porra!
Inicio da decada de 8O, eu era muito chavalinho, o Óscar Palmela era director da Secção de Vela, motorista de serviço ás regatas, figura de proa da Secção Náutica e carismática de Alhandra, por esses clubes Náuticos onde passámos grangeou grandes amizades, pela Secção fez tudo o que pôde e dava o que tinha e não tinha.
Ele mandava parar o transito na 25 de Abril, desatrelávamos os barcos da carrinha, foi abaixo e só pega de empurrão, nas maratonas do Tejo, tratava o Macário Correia (Ministro do Ambiente) e o Almirante Homem de Gouveia (acessor do P.R. Mário Soares ) por tu, enquanto fazia publicidade ao Whisky Passport, vinhamos das regatas e ele não dispensava a paragem no Largo da Praça, e em frente á estátua do Dr Sousa Martins ele gritava bem alto fosse a que horas fosse, "Sousa, chegámos bem".
Recordo o carro que ele teve no final dos anos 7O inicios de 8O, um OPel Coupé com uns grandiosos 69 pintados nas portas, (fazia inveja ao Gen Lee dos 3 duques).
Dono e senhor cadelas monumentais, vi-o ser arrastado pelo pneumático e agarrado ao painel de popa conseguir desengatar o motor, vi-o cair á água no meio do Tejo em Vila Franca com impermeáveis e botins de borracha e conseguir-se safar.
Parávamos na tasca do vinho morangueiro alguras na Póvoa de Sta Iria e ao presunto ele chamava faisão, espetou-nos grandes bebedeiras, sempre controlado, nem que fosse a 2O á hora, mas a carrinha e os barcos sempre chegavam bem á nossa terra.
Sempre que nos encontrávamos dizia, "era eu que te tirava o ranho do nariz e punha-te dentro do barco".
Vejo o meu pai á minha espera na borda d'água e quando a carrinha chega ele pergunta: então Óscar só agora?
-O que é que queres? Esta merda não anda a mais de 4O.
Co-fundador da Tertulia "Alhandra A Toireira", sempre me convidou a estar presente no aniversário da mesma e sempre fiz questão de aparecer.
Numa tourada na praça de touros de Salvaterra, salta para a arena e oferece o seu boné de marinheiro ao cavaleiro Gustavo Zenkl que lhe cede o seu tricórnio.
Andava um bocado afastado das nossas lides á alguns anos, mas não dispensava a visita á Secção de Náutica, tinha montado um telheiro entre o cais 14 e o dos bombeiros e era onde o podiamos encontrar todos os dias no seu desporto preferido, comer e beber.



No dia em que tirei a foto (Verão 2007), almocei com ele, eu ia almoçar á Dina, mas ele disse: "almoças comigo que o "Sarampo" não apareceu, tá aí o entrecosto que era para ele, pôe mais carvão no lume e desenmerda-te",falava sempre á boa maneira portuguesa, (duas palavras e uma caralhada ou um foda-se a servir de virgula), e depois era incrivel o que ele tirava do armário atrás que tinha lá no telheiro, vinho, queijo, frutas, whisky, café, a tarde nunca mais acabava.
Figura de alguns excessos, viveu á sua maneira e sempre como quis e a fazer o que gostava, na borda d'água a comer e a beber.
Grande companheiro, como dizia o Tibério, "o melhor dispenseiro que se podia ter a bordo".
Dono da frase, "vão comer para o caralh..., a tasca vai fechar".
Desta vez a tasca não volta a abrir. A borda d'água vai sentir a sua falta.

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