domingo, 13 de fevereiro de 2011

Viagens a preto e branco

Decorria o ano da graça de Deus de 1999, eu dava os primeiros passos como entidade formadora de navegadores de recreio, o Instituto Marítimo Portuário, impunha um formador credenciado para a área dos 1ºs socorros, desloquei-me aos Bombeiros Voluntários d'Alhandra, lá o nosso Cmdt Jerónimo, deu-me a indicação que havia o "tipo ideal" para isso, era o Chefe Nuno dos Bombeiros de Alverca.
Falei com o Nuno que prontamente se disponibilizou a colaborar nas minhas aulas, na matéria de segurança e 1ºs socorros.
Quando falava aos alunos que a próxima aula seria de 1ºs socorros, o interesse não era muito, afinal eles estavam ali para serem marinheiros e não socorristas, eu dizia, "venham á aula que vai ser interessante".

O Nuno chegava, nunca pontual, (os primeiros 10 minutos eram dele), á pressa perguntava-me o que queria que ele fizesse, explicava o que pretendia e as próximas 2 horas ficava por conta própria.
Sentava-me a assistir á aula, sentei-me vezes sem conta, admirava como ele conseguia transformar uma aula supostamente de "seca", numa aula extremamente interessante e interactiva, eu considerava-me um bom formador, mas nunca tinha visto nada assim, ao ponto de muitos alunos "agradecerem" aquela aula.
Posteriormente vim a saber que também era musico, encontrámos-nos no bar do meu Clube e disse-me que ia tocar ao Villa, disse-me para ir ver que ia gostar do reportório.
Fui vê-lo tocar, nunca tinha visto nenhum "amador", arranhar uma Fender Stratocaster daquela maneira, de tal modo que me fez lembrar que também tinha uma guitarra esquecida lá para os lados do Cartaxo, numa casa de família.

O tempo foi passando e fui vendo o Nuno a tocar, até ao dia que lhe liguei e levou comigo de rajada, disse que tinha comprado uma guitarra nova, que tinha uma guitarra velha, que tinha aprendido musica há uns bons 28 anos, na escola onde hoje ele também dá aulas, e que queria voltar a tocar, e depois de o ver tocar, tinha sido ele o eleito para essa nobre tarefa, o Nuno sem nunca saber que eu tinha alguma vez tocado numa guitarra, disse "aparece".

Sempre que venho de viagem e agenda o permite, encontra mo-nos no seu estúdio para trocarmos umas larachas no meio de uns acordes e ele lá se enche de paciência para me aturar, e não tem sido fácil.

Entretanto ao fim de muitos anos a acompanhar músicos de renome da nossa cena musica, atreve-se a lançar um álbum de originais, nos tempo que correm não é fácil, ainda por cima sendo a sua maioria instrumental.

Acabei de ouvir o álbum "Viagens a preto e branco", sinceramente, fiquei cliente.
Ao Nuno, pela amizade, pela paciência, por aquilo que gostamos, boa musica e um bom vinho.

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